sábado, 12 de dezembro de 2009

Dia 5, quarta-feira - 25/08/2009 - Ushuaia – Parque nacional da terra do fogo

Hoje foi meu último dia em Ushuaia e amanhã bem cedo partirei para Puerto Natales. Com todos os problemas causados pelo bloqueio do cartão o trekking no parque nacional ficou para o último dia, hoje. Eu sabia que Eugênia também iria ao parque, mas ela havia agendado um transfer mais cedo, às 9 da manhã enquanto eu iria somente às 10, então provavelmente não nos veríamos mais.
Acordei descansado às 08h00min, minha roupa toda cheirava fumaça por causa da noite passada, tentei fazer o que pude sem molhá-las, já que teria que vesti-las em seguida (um mochileiro não pode se dar o luxo de carregar muita bagagem). Depois de tomar um banho, um café rápido (havia gasto muito tempo limpando as roupas) aguardei na recepção do hostel, a van passou às 10h03min, eu era o último, depois de mim fomos direto para o parque.
O caminho para o parque é muito bonito, mas eu ainda não havia decidido que trilha faria. Depois de quase uma hora a van chegou ao refúgio Lago Roca, Dalí poderíamos iniciar uma caminhada, mas conversando o motorista nos mostrou um mapa e uma opção diferente acabei mudando de idéia, percebi que havia pelo menos mais quatro pessoas de nacionalidade não argentina na van, dos quatro, dois estavam juntos (um casal), esses partiram logo que a van parou, e ficamos eu e mais duas pessoas aparentemente também sozinhas sem saber muito bem o que fazer, conversando com eles nos apresentamos e decidimos então seguir caminhada juntos.
Eles eram Bem, um australiano de 27 anos que passava as suas férias de três meses viajando a América do sul desde a Bolívia e Malwina, uma polonesa também de 27 anos que vive e trabalha em Londres, ambos funcionários públicos.
Bem era um cara meio desajeitado, mas aparentava uma boa pessoa.
Malwina parecia ser mais observadora, adorava fotografia e carregava uma câmera bem legal. Com apenas quinze minutos de caminhada os dois já estavam impressionados com a beleza do lugar, eu também estava. O dia, assim como aconteceu no domingo, foi ensolarado, me disseram que dias assim em Ushuaia são raríssimos ainda mais no inverno. Sentimo-nos privilegiados com isso...
Além da paisagem, era muito bom ver os animais, patos caminhando sobre lagos congelados, coelhos, só não conseguiram ver os tais castores. À medida que o sol brilhava, a lâmina de gelo sobre o lago começava a derreter, o impressionante de tudo isso era o barulho do gelo trincando, era como se alguém estivesse quebrando vidros e é uma pena não poder descrever tão bem isso aqui somente com palavras, mas consegui capturar algo com minha câmera...
O dia estava fabuloso, mas o frio estava sempre presente. Durante meia hora, depois de uma caminhada mais forte, tiramos os casacos até que o sol se escondeu e o vento gelado mostrou novamente sua cara.
Iniciamos a caminhada às 11h30min sabendo que a última van para Ushuaia retornaria às 17h00min, conseguimos chegar ao local previsto às 16h15min, tempo suficiente para tomar um chocolate bem quente ($25,00) antes da volta pra Ushuaia.
Bem ainda saiu para tirar mais algumas fotos e Malwina e eu ficamos conversando um pouco mais, ela ainda me contou sobre os lugares que já passou e viveu, disse que aos 20 anos deixou seu país para estudar, cursar a universidade. Ela quer ainda concluir um PHD em filosofia, já o sonho de Bem é ser historiador. Malwina já esteve no Brasil e comentou que gostou muito de Salvador, mas nunca visitou São Paulo...
De volta a van, todos realmente muito cansados e acabamos dormindo quase toda a viagem, na volta descemos da van na parte baixa da cidade, perto já do porto, Malwina e Bem Iriam ainda visitar o museu do presídio, onde ontem estive, e eu precisava testar o cartão de viagem que iria salvar a minha pela, graças a minha amiga Valéria.
Combinamos então os três de nos encontrarmos num bar naquele dia ainda às 19h30min, eram 18h10min. Depois de confirmar o cartão fiz algumas ligações de decidi voltar para o hostel. Infelizmente não pude avisá-los que não os encontraria, mas não achei justo comigo esperar, não que eles não fossem pessoas legais, adorei conhecê-los, eram pessoas simpáticas e divertidas, acontece que minha cabeça estava estourando e eu ainda tinha que lavar algumas roupas e preparar minha tralha para cruzar a fronteira no dia seguinte para o Chile.
Chegando ao hostel tomei alguns analgésicos e fui tomar banho. Algo que valorizei de verdade nesses últimos dias frios que aqui passei foi um banho quente, havia momentos que era o que eu mais desejava. Isso me faz pensar também que às vezes na vida precisamos passar por algumas situações que de fato nos desafiem, seja mental ou fisicamente para que então possamos dar o correto valor ao conforto e a sensação de bem estar e digo mais, acho ainda que essa sensação de bem estar é cada vez melhor quanto mais situações dessas (que nos desafiam) enfrentamos.
Logo depois do banho a dor de cabeça passou e eu já havia também lavado algumas roupas e secado em seguida. Minha bota estava bastante suja e desta vez também com barro, então aproveitei o momento para testar a sua resistência a água, aprovada.
De volta ao quarto, depois de cruzar pela incontável vez o quintal gelado correndo (isso não é engraçado), comecei a separar na mochila cargueira tudo aquilo que levaria para o trekking deixando na mochila menor itens que ficariam no hostel em Puerto Natales, hostel que eu não fazia idéia, pois não tinha nenhuma reserva, contarei com a sorte dessa vez ao invés do costumeiro planejamento.
Enquanto preparava minha mochila conversava com Ahmed, Ahmed é um egípcio-argentino, como ele gostava de dizer.
Ele é casado com uma argentina há alguns anos, tem seus trinta e poucos e ao contrário da grande parte dos que estavam naquele hostel, estava buscando um trabalho em Ushuaia e não aventuras, Ahmed já viveu alguns anos nos Estados Unidos, onde trabalhou para o exercito e polícia americana.
É nascido em Cairo e vem de família de posses, Ahmed contou que dentro da tradição das famílias egípcias ele deveria ter se casado com uma de suas primas, esta seria a forma de o dinheiro, digamos, permanecer do mesmo “lado”. Ao decidir-se casar-se com a atual esposa, Ahmed renunciou tudo que tinha por direito no Cairo. Durante os três dias que tive contato com ele, me pareceu uma pessoa muito integra, com propósitos.
Ele falava sempre de seu filho de quatro anos e na esposa, a qual chamava de “mi señora”, ele contou que escolheu vir para Ushuaia, pois aqui se pagam melhor, as condições climáticas, frio severo que assola a cidade durante todo o ano, mesmo no verão, faz com que poucos queiram viver por essas bandas, minha última noite no hostel também seria a ultima de Ahmed, no dia seguinte ele iria para outro local, onde encontrou um dormitório e iria pagar algo em torno de $700/mês, o custo de vida na cidade não é baixo para quem recebe em pesos argentinos, o plano dele era conseguir um emprego, algo que lhe rendesse uns dois mil por mês, seu custo de vida seria de $1.200, o restante enviaria para a esposa para que depois de um tempo a esposa e o filho também pudessem vir, desta forma a esposa o ajudaria também trabalhando por aqui.
Ele tem curso superior e fala três idiomas, seu sonho é trabalhar mais uns três anos e conseguir recursos para iniciar um negocio exportando couro, carvão e madeira.
Depois de uma longa conversa fomos tomar café na cozinha, eu não havia jantado então ele me ofereceu uma refeição que havia preparado na noite anterior, macarrão com carne. Depois de comer tomamos o café e voltamos para o dormitório, onde peguei seu contato no “facebook”, percebi que a maior parte das pessoas que viajam e tem amigos no exterior usam o “facebook”, então é algo que vou precisar criar depois da viagem e tentar encontrar os amigos feitos enquanto descubro esse pedaço da América.

Hora de me despedir da cidade que vai deixar saudades...

Nenhum comentário:

Postar um comentário